segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Discurso na integra, da Sessão Solene Homenagem a Leonel Brizola

Senhoras e senhores:

Noventa anos! Sim, noventa anos, completam-se hoje, desde o dia em que o piá lá da localidade de Cruzinha, interior de Carazinho veio ao mundo. Ninguém podia imaginar que aquele menino que vindo com o sopro da revolução de 1923, poderia chegar tão longe. Talvez, no olhar de sua mãe a esperança de escapar à brutalidade da lança e do ódio disseminado pelas divergências políticas e, no futuro, ser um bom pai de família.

Para seu Pai, o pequeno Itagiba que mais tarde renunciou seu nome para ser Leonel, seria mais um defensor, guerreiro, lutador e, acima de tudo, um revolucionário, capaz de empunhar a lança na luta entre chimangos e maragatos.

O tempo se encarregou de moldar o caráter daquele menino que nasceu Itagiba, mas preferiu ser chamado de Leonel, para décadas depois ser conhecido como Leonel Brizola e por fim ficar na história como simplesmente “Brizola”.

E este Brizola que conheceu as letras aos 13 anos, tinha em sua lembrança a morte de seu pai, tropeiro ligado ao Partido Libertador, metido nos entreveros da revolução de 1923, que, a mando de Borges de Medeiros, foi assassinado quando a paz entre chimangos e maragatos estava selada, levando-o oitenta anos depois exclamar:

“Que loucura! Que injustiça! A paz já estava feita. Meu pai voltava para casa já desmobilizado. Que maldade!

Talvez esse fato tenha lhe dado a coragem necessária para se tornar um arauto no modo de fazer política e defender seus ideais. Sua fé, seu otimismo e sua perseverança o transformaram num dos políticos mais combativos e idealistas de todos os tempos, tornando-se respeitado e admirado em todos os lugares por onde passava, tanto no Brasil quanto no exterior. Em alguns lugares, como São Borja, criou-se um verdadeiro culto à Brizola.
De todos os cargos que ocupou na política, faltou-lhe apenas subir a rampa do Planalto. Mesmo assim foi um árduo defensor das conquistas do trabalhismo conseguidas por Getúlio Vargas. Um político diferente, patriota e nacionalista com o desejo permanente de transformar o Brasil em uma grande nação.

Sua maior bandeira foi a educação. Como prefeito de Porto Alegre reformou e construiu dezenas de escolas. Como governador implantou mais de 6 mil escolas. Fez a primeira reforma agrária do Estado, encampou a CEEE e a CRT, viabilizou a criação do BRDE, entre outra imensa lista de obras em todo o Rio Grande. No Rio de Janeiro, construiu centenas de escolas de turno integral e tornou o carnaval daquele estado conhecido além das fronteiras do país.

Sua maior força era a palavra, mas não olvidou em empunhar armas para defender a legalidade e os interesses nacionais. Assim foi no episódio da posse de Jango na presidência. Sozinho, conclamou aos cidadãos do Rio Grande à luta, fazendo a maior mobilização popular a que se tem notícia na história e enfrentou o Exército, a Marinha e a Aeronáutica. Foi um feito épico, único, singular. Somente Brizola, com sua força, coragem e determinação e o senso de justiça aprendidos ainda lá na localidade de Cruzinha, a cada dia mais vivo a circular pelas suas veias seria capaz de tamanha aventura.

E Brizola Venceu!

Venceu e levou Jango à presidência. Seus adversários sentiram o golpe e se reorganizaram, tomando o poder três anos mais tarde, iniciando-se a grande noite que engoliria a frágil democracia brasileira.

O menino de Cruzinha, já um estadista, caiu convicto de seus ideais, jamais abandou ou mudou sua linha de conduta. Foi exilado e, mesmo à distância, tinha influência sobre os acontecimentos políticos de nosso Estado. Permaneceu como um dos principais líderes latino-americano. Foi perseguido, mudou de lugar algumas vezes, voltou.

Não apenas voltou como retomou seu lugar, num país destroçado no caráter e na moral de seu povo após tantos anos sob o comando das baionetas.

Mesmo com o golpe da perda da sigla do PTB, realinhou as forças trabalhistas.
Consumado o “esbulho” da sigla; olhos marejados, Brizola rasga o papel em que havia escrito o nome do PTB que ajudara a fundar e que militava havia 43 anos e, com voz embargada, sentencia: “eles destruíram o PTB, mas não irão nos calar”.

E calar, Brizola não sabia. Isso era tônica em sua vida. Enfrentou momentos agudos da política nacional, sem jamais temer ou se curvar àquilo que não refletisse suas convicções. Foi assim ao longo de sua história. Não se calou ante o golpe de 61. No exilio se mantinha ativo. Retornou e não se calou em momento algum tendo, inclusive, enfrentado as Organizações Globo, denunciando abusos e tentativas de golpe orquestradas pela empresa. Prosseguiu com seus “tijolaços”, sempre se posicionando contra os desmandos políticos de nosso país, tendo publicado seu último texto no dia 06 de maio de 2004, com o título “epitáfio da esperança”, posicionando-se contra o salário mínimo de R$ 260,00 proposto pelo governo Lula.

E por não se calar, Brizola venceu grupos poderosos, elegendo-se governador do Estado do Rio de Janeiro por duas vezes.

Muitos queriam a morte de Brizola. Já no segundo dia após seu retorno em 1976, em Porto Alegre, recebeu um panfleto apócrifo o convidando para o sepultamento de Leonel Brizola, tendo alguns meses depois, em seu apartamento no Rio de Janeiro, enrolado em alguns papéis encontrado uma bomba, do mesmo tipo que, posteriormente, matou a secretária da OAB.

Mas o certo é que a morte de Brizola, tão esperada, tão desejada tantas vezes, por tantos adversários não viria, nem tão cedo.

Ela veio anos depois, não do jeito desejado pelos seus adversários, mas de forma natural. Foi-se o homem, ficou seu legado.

Em uma entrevista concedida em 1995, BRIZOLA, assim se referiu ao sonho que o movia :

“o sonho de soberania, desenvolvimento e justiça social. É este sonho, esta luta que eles jamais conseguirão destruir. Eu sobrevivo politicamente porque faço parte desta herança. Por isso, tenho sido como uma planta do deserto, que se mantém com o orvalho e renasce às primeiras gotas de chuva, graças às suas raízes profundas. Muitos, com mais qualidades pessoais e talentos políticos que eu, desapareceram da vida nacional porque se afastaram ou renegaram este caminho brasileiro para o socialismo”.

Diante da história de um homem vigoroso em suas palavras, reto em sua conduta e firme nas suas posições que sabia manejar os meandros da política como poucos, resta-nos apenas honrar a história desse velho leão da política brasileira, um apaixonado, polêmico e inconformista, sempre ao lado dos trabalhadores, e reafirmar sua despedida feita em 1961, durante a legalidade, quando se dirigiu ao povo dizendo:

“Adeus meu Rio Grande querido, pode ser este realmente nosso adeus. Mas aqui estaremos para cumprir com nosso dever”.

Hoje, 50 anos após essa despedida, podemos afirmar:

- Estamos aqui para cumprir com o nosso dever !

Um comentário:

  1. Muito bom, quem derá que tivessemos ainda hoje mais políticos com valores e caráter de Brisola, Parabéns!!! Pedro Paulo

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